sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

O futuro retorno da monarquia

“Os estados modernos, que são monstruosidades burocráticas e jurídicas divorciadas de qualquer sabedoria filosófica, cada vez mais demonstram que terão de ser suplantados nas próximas décadas como uma condição de sobrevivência das nações ocidentais. Tecnocracias mal administradas por elites ridiculamente estúpidas que com desfaçatez inédita na história humana se propõem a regular cada detalhe da vida social e individual. Estes estados desfalecem diante de nossos olhos.
Instituições de princípios vazios de sentido, que não resistem a simples análises lógicas oferecem-nos um espetáculo exemplar de malignidades. Igualdade e liberdade, por exemplo, as palavras de ordem da modernidade, são termos contraditórios e não aplicáveis à realidade, destoantes da ordem natural. Conceitos que simplesmente não podem ser tomados como princípios, mas sendo, produzem a catástrofe política que é a República Liberal. Enquanto o igualitarismo é uma triste e destrutiva ficção, a liberdade como princípio imperante é um paradoxo, pois destrói as legítimas liberdades humanas ao destruir a ordem que as sustenta.
Eis que conceitos abstratos aplicados indefinidamente levam a contradições intermináveis. A profusão anárquica de nossos dias, os saques, a destruição das metrópoles, a decadência dos centros urbanos, o ataque às bases e símbolos da civilização, manifestações de barbarismo e bestialidade dos Antifa e da esquerda em geral e acima de tudo, a impotência das forças de ordem frente à ignorância dos líderes políticos; tudo isto é apenas uma parcela da camada visível da permanente crise revolucionária. Não é sintomático que a normalização da corrupção moral é justificada como liberdade e a decadência da cultura e da política são justificados pela igualdade?
Estes falsos deuses modernos cairão; eventualmente alguma das gerações vindouras irá derrubá-los e entronizar os verdadeiros princípios. Aquilo que Leão XIII chamou de "funestos erros" sairão de cena pela marcha das consciências restauradoras. Igualdade, democracia de massas, soberania popular, tudo isso está fadado à destruição. Será pelo caos revolucionário que leva ao totalitarismo ou pelo triunfo contra-revolucionário que trará a restauração. Nós que ainda temos bom-senso optamos pela Contra-Revolução.
Não é a Sexta República Brasileira que precisa cair. É a República Moderna, pseudo-religião naturalista e gnóstica que precisa morrer. E como diria um certo Nietzsche, só vencemos aquilo que substituímos, apenas o Império pode garantir a superação da hipermodernidade. A monarquia como regime apaziguador, unificador do povo, com autoridade e agilidade para exercer o legítimo papel do estado e limitado naquilo que a subsidiariedade ordena a grei. Regime forte e estável, irradiador de virtudes e inibidor de corrupções. Pronto para fazer da Nação uma potência próspera e espiritualmente vigorosa. Regime liderado por um elo real e concreto entre o passado, o presente e o futuro. Uma família educada desde a infância, conhecedora e amante da Nação, comprometida com esta.
E que Império poderá ser forte, sábio e capaz para lidar com a imundice pós-moderna? Lembremos novamente Leão XIII em sua Diuturnum Ilud:
"Quando a sociedade civil, surgida de entre as ruínas do Império Romano, se abriu de novo à esperança da grandeza cristã, os Romanos Pontífices consagraram de um modo singular o poder civil com o Imperium Sacrum."
Pois bem, a Monarquia não voltará como uma República coroada. Voltará sim, como parte de uma restauração superior, um reflexo da atuação de forças transcendentes na história. Nestes anos 20 haver-se-á de preparar e nas décadas seguintes a marcha celestial da cruzada contra a besta revolucionária ressoará triunfante. A restauração do que Leão XIII lembrava na Immortale Dei:
"Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos príncipes e à proteção legítima dos magistrados. Então o sacerdócio e o império estavam ligados em si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda expectativa, frutos cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer.
Se a Europa cristã domou as nações bárbaras e as fez passar da ferocidade para a mansidão, da superstição para a verdade; se repeliu vitoriosamente as invasões muçulmanas, se guardou a supremacia da civilização, e se, em tudo que faz honra à humanidade, constantemente e em toda parte se mostrou guia e mestra; se brindou os povos com a verdadeira liberdade sob essas diversas formas, se sapientissimamente fundou uma multidão de obras para o alívio das misérias; é fora de toda dúvida que, assim, ela é grandemente devedora à religião, sob cuja inspiração e com cujo auxílio empreendeu e realizou tão grandes coisas."
E que não haja ilusões, o Imperium Sacrum voltará em meio a uma guerra. Terá de ser integralmente restaurador ou será abortado no princípio pelas elites luciferianas e seus asseclas idiotas úteis que hoje nos dominam e infestam a sociedade.
Joseph de Maistre em sua refutação a Rousseau já antevia: "Cabe aos homens sábios de todas as nações refletir profundamente sobre as antigas leis das monarquias, os bons costumes de cada nação e o caráter geral dos povos europeus. É nessas fontes sagradas que eles encontrarão remédios adequados aos nossos infortúnios, e os sábios meios de regeneração serão infinitamente separados das teorias absurdas e idéias exageradas que nos causaram tanto dano."”
(O Imperialista, em postagem no Facebook de 10.06.2020)

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Quando o conceito de autoridade se perverte


"Num de seus livros, escreve o Padre Álvaro Calderón, da FSSPX, que a AUTORIDADE INTELECTUAL se ordena a comunicar a ciência; a AUTORIDADE MORAL se ordena a comunicar a virtude; e a AUTORIDADE SOCIAL, ou política, se ordena a estabelecer a paz social. Em nossas sociedades pós-católicas, essas autoridades simplesmente inexistem, pois foram fagocitadas pelo marketing maquiavélico e por engenharias sociais que têm as massas a salivar pavlovianamente a qualquer um de seus comandos, e a AUTORIDADE ESPIRITUAL, dada a defecção dos pastores em matéria gravíssima, se retirou da Pólis.
A completa destruição da civilização, como nós a conhecemos, é inexorável – porém apenas uma minoria insignificante, e sem acesso às instâncias superiores de poder, consegue ter o vislumbre da hecatombe.
Quanto durará esse processo de decomposição? Não sabemos. Mas sabemos que quando o mal chega ao estado de metástase é porque o fim está mais ou menos próximo..."
(Sidney Silveira, em postagem no Facebook de 04.08.2020)

sábado, 23 de dezembro de 2023

O espírito clássico

“O espírito clássico é a busca desinteressada pela perfeição; é o amor pela clareza, razoabilidade e autocontrole; é, acima de tudo, o amor à permanência e à continuidade. Exige de uma obra de arte não que seja nova ou eficaz, mas que seja bela e nobre. Procura não apenas expressar individualidade ou emoção, mas emoção disciplinada e individualidade restringida por lei. Esforça-se mais pelo essencial que pelo momentâneo - ama a impessoalidade mais que a personalidade e sente mais poder na sucessão ordenada das horas e das estações que na violência de um terremoto ou tempestade. E adora mergulhar na tradição. Desejaria que cada nova obra se conectasse à mente daquele que a vê com todas as obras nobres e belas do passado, trazendo-as à sua memória e fazendo de sua beleza e charme uma parte da beleza e encanto da obra que tem diante de si. Não nega a originalidade e a individualidade - elas são tão bem-vindas quanto inevitáveis. Não considera a tradição como imutável ou como um limite rígido à invenção. Mas deseja que cada nova apresentação da verdade e da beleza nos mostre a antiga verdade e a antiga beleza, vistas apenas sob um ângulo diferente e coloridas por meios diferentes. Quer adicionar elo por elo à cadeia da tradição, mas não deseja quebrar a cadeia”.
(Kenyon Cox, The Classic Point of View)

domingo, 23 de julho de 2023

A metafísica cristã de Tresmontant

“Tresmontant não é uma figura muito querida entre tradicionalistas, de fato, seu passado de juventude como um “chardiniano” não é de garbo. Todavia, seu trabalho é muito maior do que modas juvenis, e o assunto tratado aqui é de importância seminal, assunto este que o helenista francês prestou devidas explicações valiosas.
Entre suas teses notórias - que longe de serem originais, ressoam perfeitamente como ratificações de verdades milenares - está a de que, desde a gênese do Cristianismo, existe algo muito próprio da cosmogonia cristã, definido e distinto dos eleáticos, dos heraclitianos, platônicos, aristotélicos e etc. Esse algo é alcunhado de metafísica cristã, pois são realidades, mesmo que reveladas, racionalmente concebíveis e justificáveis. Evidentemente, como ele mesmo diz em seus comentários sobre o marxismo (o qual talvez eu comente sobre posteriormente) “outras verdades podem ser assumidas pelos cristãos, pois todas as verdades devem ser entendidas como provenientes, de alguma forma, da Verdade”, portanto existem linhas de conciliação entre platônicos e aristotélicos com o Cristianismo, mas essa conciliação se dá em um enfrentamento; isto é, realiza-se a comparação entre dois modelos existentes, o Cristão e o exógeno.
É mister depreender: não pode ser o Cristianismo um conjunto de forças da moda, mas antes uma Doutrina sólida qual, se pode ser conciliada com algum esquema, o é parcial e combativamente - no sentido clássico de “enfrentamento de teses”.
Essa afirmação, embora nos aparente óbvia, é extremamente atacada em meios inclusive ditos “conservadores”, que seguem a doutrina de Bauer, tacitamente assumida por Eric Voegelin.
Tal concepção consiste em afirmar que não havia “ortodoxia” ou “Doutrina” no Cristianismo Primitivo, apenas um acontecimento puro que, com o passar das eras, foi se adornando com coisas que não lhe eram próprias na gênese (daí o fato de Voegelin se declarar um cristão “pré-Niceno”). Essa negação de um saber sistemático é anteposta por Tresmontant; ele afirma, indubitavelmente, que há nos Pais da Igreja e mesmos nos apóstolos um conjunto subjacente de signos, crenças e teses, sem as quais nada que é explanado pelo Cristianismo primitivo significa em absoluto. Entre tais signos está o já tratado aqui; a Criação, formalmente considerada.
Mas, um argumento antagônico é levantado por alguns: como pode um acontecimento histórico - nomeadamente, a Encarnação, que possibilita o Cristianismo e é seu fundamento último - ter uma filosofia eterna, para todos os tempos e causas, metafísica? Se é histórico é contingente, se é contingente pode assumir diversas verdades em diferentes períodos de tempo, e não é, por conseguinte, uma Verdade única.
Tal concepção é respondida em seu outro livro “São Paulo e o mistério do Cristo”, quando ele apresenta algumas noções sobre a Encarnação. Segundo Tresmontant - e em perfeita confluência com a Doutrina Católica - a Encarnação escolheu, lhe aprouve o tempo onde sucedeu-se. Com esta informação somente podemos dizer que este evento é de uma natureza distinta do que outras ocorrências históricas (no suceder em algum lugar). Enquanto o que é contingente não tem pleno controle sobre o suceder, a Encarnação, segundo a Doutrina de sempre, assumida por todos os cristãos desde os apóstolos - a Metafísica Cristã! -, tem controle sobre quando irá suceder-se, e se tem é porque vem de outro mundo, como Cristo mesmo diz.
Assim, a estrutura interna da Encarnação, assumida na Metafísica Cristã de Tresmontant, tem uma maneira própria de operar, distinta das demais ocorrências alcunhadas de “contingentes”. É um fato histórico que, na verdade, vem do Eterno, e é essa a base de toda a noção de Revelação; o Superior descendo ao inferior.
Não só isso como a história, dentro da própria concepção cristã, é profundamente dependente de toda a Encarnação. Todo o homem tem a vontade de se “religar” a um “saber de salvação”, ao ponto de alguns antropólogos, como o Cardeal Julien Ries, alcunharem o homem de homo religiosus. A tragédia e o drama humano, a impotência e as prefigurações salvíficas; toda essa suposta “ausência” do acontecimento histórica clama uma presença; uma presença latente, mais ainda presença.
Assim, é ingênuo falar da Encarnação como um simples acontecimento histórico, pois ela é, segundo os Cristãos
1. Voluntária e ciente de todos os períodos históricos ao ponto de escolher um para evidenciar-se.
2. Requerida pela natureza humana enquanto insuficiente e “religada”.
3. Ciente de todas as pessoas sob as quais poderia se alojar, escolhendo aquela que foi salva preventivamente de toda a mancha do pecado, a Virgem Maria.
Tais exigências são “predisponências da Encarnação”, que são escolhidas por ela mesma, e portanto suas categorias são totalmente distintas de quaisquer outras “historicamente aceitáveis”. Com efeito, nenhum evento contingente escolhe quando ele mesmo se sucede, pois na Natureza é a razão da causa que determina o efeito. No caso da Encarnação, o Efeito é Causa. Tentar adequar este acontecimento singular à contingência é perder de vista o horizonte hermenêutico que o Cristianismo imbui nele.
Qual o pano de fundo que legitima a encarnação? Precisamente o pano de fundo Uno e Verdadeiro que advoga Tresmontant, aquilo tácito e presente desde a gênese do Cristianismo. Consequentemente, o que parece uma objeção apenas reforça o caráter Doutrinal e único dos cristãos.
O Deus cristão não é um Deus contingente, mas que se manifesta no contingente, já eternamente decidido que o fará. E tal aspecto é apenas um, dentre tantos outros, que implicam a filosofia cristã sistemática e básica, sem a qual o Cristianismo não teria esta lógica interna, evidente desde os primeiros apóstolos, evidente na própria estrutura da Revelação.
Sobre o aspecto imortal da Encarnação, pedida desde o primeiro homem a cair no Pecado, pego de empréstimo as palavras de Carl Schmitt em suas “Três possibilidades de uma concepção cristã de História”:
"História que não é apenas um arquivo do que foi, mas também não é um auto-espelho humanístico ou um mero pedaço da natureza circulando em torno de si mesma. Em vez disso, a história sopra como uma tempestade em grandes testemunhos. Ela cresce por meio de criações fortes, que inserem o eterno no decorrer do tempo. É um ataque de raízes no espaço de sentido da terra. Através da escassez e da impotência, esta história é a esperança e a honra de nossa existência”.
E não é esse conjunto de tropeços, essa vacuidade e impotência da alma humana, os testemunhos heróicos e os dramas da condição humana apenas esperançosos enquanto esperam, todos, a Cristo Encarnado?”

https://andretheophorus.medium.com

sexta-feira, 30 de junho de 2023

A crise moderna se chama revolução


“Todas as crises se resumem em uma: a crise do homem. As muitas crises que abalam o mundo hodierno — do Estado, da família, da economia, da cultura, etc. — não constituem senão múltiplos aspectos de uma só crise fundamental, que tem como campo de ação o próprio homem.
Em outros termos, essas crises têm sua raiz nos problemas de alma mais profundos, de onde se estendem - para todos os aspectos da personalidade do homem contemporâneo e todas as suas atividades.
Essa crise é universal. Não há hoje povo que não esteja atingido por ela, em grau maior ou menor. Essa crise é una. Isto é, não se trata de um conjunto de crises que se desenvolvem paralela e autonomamente em cada país, ligadas entre si por algumas analogias mais ou menos irrelevantes.
Essa crise é total. Considerada em dado país, essa crise se desenvolve numa zona de problemas tão profunda, que ela se prolonga ou se desdobra, pela própria ordem das coisas, em todas as potências da alma, em todos os campos da cultura, em todos os domínios, enfim, da ação do homem.
É dominante. Essa crise é como uma rainha a que todas as forças do caos servem como instrumentos eficientes e dóceis. É sucessiva. Essa crise não é um fato espetacular e isolado. Ela constitui, pelo contrário, um processo crítico já cinco vezes secular, um longo sistema de causas e efeitos que, tendo nascido, em momento dado, com grande intensidade, nas zonas mais profundas da alma e da cultura do homem ocidental, vem produzindo, desde o século XV até nossos dias, sucessivas convulsões.
A causa principal de nossa presente situação é impalpável, sutil, penetrante como se fosse uma poderosa e temível radioatividade. Todos lhe sentem os efeitos, mas poucos saberiam dizer-lhe o nome e a essência.
Este inimigo terrível tem um nome: ele se chama Revolução.
Sua causa profunda é uma explosão de orgulho e sensualidade que inspirou, não diríamos um sistema, mas toda uma cadeia de sistemas ideológicos.
Entre as paixões desordenadas, o orgulho e a sensualidade ocupam um lugar proeminente. Eles marcam o utopista com duas notas principais: o desejo de ser supremo em sua esfera, não aceitando sequer um Deus transcendente, e a tendência a uma plena liberdade na satisfação de todos os instintos e apetências desregradas.
A Revolução é a desordem e a ilegitimidade por excelência. Os agentes do caos e da subversão fazem como o cientista, que em vez de agir por si só, estuda e põe em ação as forças, mil vezes mais poderosas, da natureza.
Da larga aceitação dada a estes no mundo inteiro, decorreram as três grandes revoluções da História do Ocidente: a Pseudo-Reforma, a Revolução Francesa e o Comunismo.
O orgulho leva ao ódio a toda superioridade, e, pois, à afirmação de que a desigualdade é em si mesma, em todos os planos, inclusive e principalmente nos planos metafísico e religioso, um mal. É o aspecto igualitário da Revolução.
A sensualidade, de si, tende a derrubar todas as barreiras. Ela não aceita freios e leva à revolta contra toda autoridade e toda lei, seja divina ou humana, eclesiástica ou civil. É o aspecto liberal da Revolução.
Ambos os aspectos, que têm em última análise um caráter metafísico, parecem contraditórios em muitas ocasiões, mas se conciliam na utopia marxista de um paraíso anárquico em que uma humanidade altamente evoluída e “emancipada” de qualquer religião vivesse em ordem profunda sem autoridade política, e em uma liberdade total da qual entretanto não decorresse qualquer desigualdade.
A Pseudo-Reforma foi uma primeira Revolução. Ela implantou o espírito de dúvida, o liberalismo religioso e o igualitarismo eclesiástico, em medida variável aliás nas várias seitas a que deu origem.
Seguiu-se-lhe a Revolução Francesa, que foi o triunfo do igualitarismo em dois campos. No campo religioso, sob a forma do ateísmo, especiosamente rotulado de laicismo. E na esfera política, pela falsa máxima de que toda a desigualdade é uma injustiça, toda autoridade um perigo, e a liberdade o bem supremo.
O Comunismo é a transposição destas máximas para o campo social e econômico.”
(Plínio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução)

quinta-feira, 8 de junho de 2023

A filosofia não é para as massas


” A superioridade do verbo mental, do conceito sobre a palavra escrita reside na circunstância de que esta última apresenta um problema grave, segundo Platão: o escrito não pode "calar-se", ocultar-se para aqueles perante os quais conviria o silêncio. Mas, a propósito, quem seriam estes? A maioria, de acordo com Platão, ou a massa imbecilizada ("multitudo stultorum"), para Santo Tomás, formada por pessoas que não se desvencilham das questões comezinhas do dia-a-dia.
O peso do agora esmaga-lhes e, por esta razão, a sua tendência é contentar-se com placebos ideológicos, distrações fúteis ou afazeres "terapêuticos" para amenizar o momento presente; não querem a verdade porque simplesmente não a suportariam. Para o horizonte mental dessas pessoas bastam frases de efeito, slogans, qualquer coisa que lhes dê uma telúrica sensação de segurança, hipertrofie neuroticamente a sua auto-estima.
São demasiado terra-a-terra e contemplar o céu os ofende; portanto, ai de quem ousa dizer-lhes que, fora da sua amada caverna – onde matam o tempo distraindo-se com as sombras –, há belezas mais excelsas para conhecer e amar...
Em síntese, escrever de maneira satisfatória ou proficiente para a multidão é impossível; esta nutre uma secreta afeição pela pequenez, pela mediocridade travestida de excelência, pelo ouropel. Neste sentido fala Aristóteles do encanto que certas melodias têm sobre a "massa de escravos", entendidos não no sentido político ou social do termo, mas como criaturas psiquicamente desprovidas de capacidade deliberativa – para as quais seguir a boiada é uma espécie de atitude instintiva, uma tendência, uma triste vocação.
A filosofia, dado o seu caráter abstrato, é para a minoria e não para as massas. Sempre foi assim e assim sempre será; isto nada tem de elitismo...
Uma época que, tresloucadamente, pense ser a filosofia feita de encomenda para o povão há de idolatrar os Leandros Carnais em detrimento dos Sócrates; preferirá os freis Bettos a qualquer Santo Agostinho que apareça.
A malta sempre escolherá o Barrabás da vez, justificando-se com a régua que mede a sua própria perversidade.”
(Sidney Silveira, em postagem no Facebook de 21.08.2020)

quinta-feira, 25 de maio de 2023

A imprecisão da expressão “doutrina de Jesus Cristo”


“Quando falamos de "doutrina de Jesus Cristo", devemos, creio eu, estar cientes de que essa expressão, embora inevitável, é necessariamente imprecisa. O termo vem de "doceo, docere", "ensinar", e de "doctus", "douto". Toda doutrina, nesse sentido, é um discurso sobre realidades que permanecem independentes dele e às quais ele apenas se refere, ou alude. Mas seria obviamente absurdo supor que as realidades do mundo são independentes d'Aquele que as criou como os minerais são independentes do mineralogista que fala sobre eles. O discurso de Jesus não fala de coisas cuja existência independe d'Ele; ao contrário, a origem desse discurso é a origem das coisas mesmas. Logo, não se trata de mero "ensinamento" sobre as coisas, e sim da voz interior das coisas mesmas, ouvida desde a própria origem delas. "Doutrina", aí, é uma figura de linguagem, um eufemismo.”
(Olavo de Carvalho, em postagem no Facebook de 27.08.2020)

sexta-feira, 21 de abril de 2023

O colapso da Igreja


“O Vaticano se encontra em apuros graças a uma combinação de corrupção generalizada e doações em declínio.
Essas são as alegações em Juízo Universal, um novo livro de Gianluigi Nuzzi, o jornalista italiano famoso pela pesquisa de documentos que revelaram impropriedades financeiras no Vaticano.
Em 2006, a Igreja Católica arrecadou US$ 112,7 milhões. Hoje, as doações caíram para cerca da metade, US$ 56,9 milhões. Nesse ritmo, o Vaticano estará inadimplente até 2023, de acordo com Nuzzi.
Novos documentos também expõem uma imprudente e desastrosa gestão usando dinheiro destinado à caridade. 77% do dinheiro do fundo de caridade Óbulo de São Pedro está nas mãos do banco de investimento internacional Credit Suisse, que está usando uma parte do mesmo para apostar em empreendimentos de alto risco e esquemas de enriquecimento rápido.
O Papa Francisco é um defensor notório da União Européia, sobre a qual ele já alertou que deve ser defendida do "medo" e das "ideologias". As declarações políticas do papa foram consideradas sentimentalismo globalista ou ingenuidade, mas nelas também pode haver uma sagaz lógica econômica.
O empreendimento de luxo de US$ 200 milhões do Secretariado do Vaticano com o especulador Raffaele Mincione em um dos bairros gays históricos de Londres se tornou um grande fracasso quando o Brexit foi aprovado e os valores das propriedades despencaram. Mincione embolsou aproximadamente £128 milhões relacionados ao projeto, enquanto o Vaticano torrou outros 100 milhões de libras em dívidas herdadas da propriedade.
Embora alguns dos associados a este golpe tenham sido suspensos, os cruzados contra a corrupção na Igreja Católica ainda são chantageados ou punidos em silêncio. Em agosto passado, o tesoureiro do Vaticano George Pell, um defensor da auditoria do banco do Vaticano, foi condenado por um ataque homossexual a meninos de coro de décadas atrás, com base em grande parte no que foi criticado pela divergência jurídica como evidência inventada.
A maioria na Santa Sé acredita que Pell é inocente, mas Francisco o convenceu a retornar à Austrália para enfrentar o julgamento de qualquer maneira. O papa se recusou a apoiar seu prefeito e principal reformador após o veredito.
Enquanto a Igreja Católica continuar flutuando em águas econômicas desconhecidas, seu discurso refletirá cada vez mais os caprichos do poder do dinheiro do qual está à mercê, e não seus seguidores.
Embora exista um movimento pequeno, mas influente, tentando afirmar o ensino social católico como a base do conservadorismo contra o liberalismo e a modernidade, o alto comando do Vaticano já deixou claro que não quer ter nada a ver com isso.
Antonio Spadaro, principal conselheiro do Papa Francisco, escreveu um editorial mordaz no jornal oficial do Vaticano condenando ferozmente qualquer união entre protestantes e católicos no interesse de se opor ao casamento gay, ao aborto ou afirmar a necessidade de orientação moral na demoplutocracia liberal.
O papa recomendou o artigo de Spadaro quando este zombou dos católicos tradicionalistas como tolos nostálgicos e cheios de ódio em setembro passado.
Os hierarcas da Igreja não estão interessados em atrair os milhões que procuram refúgio de um mundo moderno grotesco e anárquico, nem estão preocupados em manter ninguém na Igreja. Em vez disso, preferem seus novos amigos de elite no Goldman Sachs e na mídia judaica.”
(Eric Striker, The Collapsing Catholic Church)

https://national-justice.com

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

A decadência das instituições modernas


“Nossas instituições nada mais valem: acerca disso há unanimidade. O problema não está ligado a elas, mas a nós. Depois que perdemos todos os instintos dos quais nascem as instituições, estamos perdendo as instituições mesmas, porque não mais prestamos para elas. O democratismo sempre foi a forma de declínio da força organizadora: já em Humano, Demasiado Humano, I, 318,125 caracterizei a moderna democracia, juntamente com suas meias realidades, como o “Reich alemão”, como forma declinante do Estado. Para que haja instituições, é preciso haver uma espécie de vontade, de instinto, de imperativo, antiliberal até a malvadeza: a vontade de tradição, de autoridade, de responsabilidade por séculos adiante, de solidariedade entre cadeias de gerações, para a frente e para trás in infinitum. Estando presente essa vontade, algo como o Imperium Romanum é fundado; ou como a Rússia, o único poder que hoje tem durabilidade, que pode esperar, que pode ainda prometer algo — Rússia, o conceito contrário à miserável divisão européia em pequenos Estados e ao nervosismo europeu, que a fundação do Reich alemão fez entrar numa fase crítica... O Ocidente inteiro não tem mais os instintos de que nascem as instituições, de que nasce futuro: talvez nada contrarie tanto o seu “espírito moderno”. Vive-se para hoje, vive-se rapidamente — vive-se irresponsavelmente: eis precisamente o que se chama “liberdade”. O que de instituições faz instituições é desprezado, odiado, rejeitado: acredita-se correr o perigo de uma nova escravidão, tão logo a palavra “autoridade” é ouvida. A esse ponto vai a décadence no instinto de valor de nossos políticos, de nossos partidos políticos: eles instintivamente preferem aquilo que dissolve, que apressa o fim... Testemunha disso é o casamento moderno. Ele claramente perdeu toda racionalidade: mas isso não constitui objeção ao casamento, e sim à modernidade. A racionalidade do casamento estava na responsabilidade legal única do homem: com isso o casamento tinha um centro de gravidade, enquanto agora manca das duas pernas. A racionalidade do casamento estava em sua indissolubilidade por princípio: com isso adquiriu um tom capaz de fazer-se ouvir, perante o acaso de sentimento, paixão e momento. Estava igualmente na responsabilidade das famílias pela escolha dos noivos. A crescente indulgência para com o casamento por amor praticamente eliminou o fundamento do matrimônio, aquilo que faz dele uma instituição. Jamais, em tempo algum, uma instituição é fundada numa idiossincrasia, não se funda o matrimônio, como disse, no “amor” — ele é fundado no instinto sexual, no instinto de posse (mulher e filho como posses), no instinto de dominação, que incessantemente organiza para si a menor formação de domínio, a família, que necessita de filhos e herdeiros, para segurar também fisiologicamente a medida que alcançou de poder, influência e riqueza, para preparar longas tarefas e a solidariedade de instinto entre os séculos. O casamento como instituição já compreende em si a afirmação da maior e mais duradoura forma de organização: quando a sociedade mesma não pode garantir-se como um todo, até as mais remotas gerações por vir, não há sentido no casamento. — O casamento moderno perdeu seu sentido — portanto, está sendo abolido.”
(Friedrich Nietzsche, Götzen-Dämmerung oder Wie man mit dem Hammer philosophiert)

domingo, 13 de novembro de 2022

Tolerância e intolerância

“Tolerância e intolerância se aplicam a duas coisas totalmente diferentes. A tolerância se aplica apenas a pessoas, mas nunca a princípios; a intolerância se aplica apenas aos princípios, mas nunca a pessoas. Devemos ser absolutamente intolerantes com as verdades da matemática, mas devemos ser tolerantes com o matemático. Não devemos ter a mente aberta ao recebermos nossas contas e dizer que vinte e vinte podem dar sessenta, mas devemos ser tolerantes com o dono da mercearia que comete o erro. Nada é tão assustadoramente exclusivo quanto a verdade. Devemos ser intolerantes com a verdade, pois ela é obra de Deus e não nossa. Devemos ser tolerantes com as pessoas, pois elas são humanas e sujeitas ao erro”.
(Fulton Sheen, The Mystical Body of Christ)