sábado, 27 de maio de 2017

A tragédia do endeusamento da história


"Aprendemos que as essências são determinadas e que os atos, os acontecimentos são contingentes. Na atualidade nos é ensinado o contrário, a saber: que a natureza humana (se é que se tolera ainda o emprego desta palavra) é fundamentalmente contingente, indeterminada, maleável, enquanto os acontecimentos são necessários e que esses nos ‘informam’, nos recriam sem cessar. Para esses pseudometafísicos tudo é obscuro no homem (seu ser, que não é definido jamais, se dissolve no econômico e no social), mas tudo é claro na história. Nós não sabemos o que somos, mas sim, sabemos para onde o tempo nos conduz. É o caminho que cria não apenas o objetivo, mas o próprio viajante... Para tal concepção não é o homem quem faz a história, é a história quem faz o homem. O tempo já não é uma tela a preencher, um instrumento oferecido ao homem para exercer sua liberdade, quer dizer, para realizar seu destino temporal e preparar seu destino eterno; não, o homem é instrumento do tempo, a matéria informe e caótica que recebe sua forma e seu fim desse demiurgo... A história, assim erigida em ato puro e em potência criadora, ressuscita em seu proveito as mais obscuras ideologias das idades bárbaras; nessa perspectiva, todos os sacrifícios humanos são permitidos e exigidos: contanto que a carruagem divina prossiga sua rota luminosa, que importam os seres obscuros triturados por suas rodas? Se, com efeito, tudo que é verdadeiro e tudo o que é o bem residem no porvir, os piores horrores do presente estão justificados: é bom tudo o que conduz a esse porvir, tudo o que se encontre conforme o ‘sentido da história'."
(Gustave Thibon, Revista Itinéraires, julho-agosto de 1956)

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